top of page

Trump quer trazer fábricas de volta aos EUA, mas desafios são grandes

maykonnogueira

O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem uma solução aparentemente simples para proteger a indústria americana e evitar tarifas sobre produtos estrangeiros: trazer as fábricas de volta para os EUA. Ele acredita que, ao repatriar a produção, pode revitalizar a manufatura nacional e criar empregos para trabalhadores de colarinho azul, base eleitoral importante. No entanto, especialistas alertam que essa estratégia enfrenta obstáculos significativos, desde a automação até as complexidades da economia global.


A promessa de Trump

Trump defende que as empresas evitem tarifas sobre importações produzindo nos EUA. “O que eles precisam fazer é construir suas fábricas de automóveis e outras coisas nos Estados Unidos. Caso contrário, terão que pagar tarifas”, disse ele recentemente. Sua meta é reduzir o déficit comercial americano, que atingiu US$ 1,2 trilhão em 2022, e reequilibrar o sistema econômico internacional, que ele considera injusto.


No entanto, a realidade é mais complicada. A participação dos empregos industriais na economia dos EUA caiu para apenas 8% da força de trabalho, o menor nível desde 1939. Desde o final dos anos 1990, quase 5 milhões de empregos na manufatura desapareceram, e a automação reduziu a necessidade de mão de obra humana.


Desafios para a manufatura americana


  1. Automação e mudanças tecnológicas: As fábricas modernas dependem mais de máquinas do que de trabalhadores. Mesmo que as empresas retornem aos EUA, os empregos criados provavelmente serão em menor número e exigirão habilidades mais avançadas. Além disso, os salários na manufatura não são mais tão atraentes quanto antes. Um estudo de 2022 do Federal Reserve mostrou que o “prêmio salarial” para trabalhadores da produção desapareceu em 2006, em parte devido ao declínio dos sindicatos.


  2. Custos mais altos: As tarifas sobre produtos como aço e alumínio, impostas por Trump, aumentam os custos para indústrias que dependem desses materiais, como montadoras de veículos e fabricantes de eletrodomésticos. Isso pode encarecer os produtos finais e reduzir a competitividade das empresas americanas no mercado global.


  3. Falta de mão de obra: Com a economia operando em pleno emprego, as empresas já enfrentam dificuldades para encontrar trabalhadores. Políticas de imigração mais restritivas, defendidas por Trump, podem agravar esse problema, limitando o pool de mão de obra disponível.


  4. Globalização e cadeias de suprimentos: As empresas americanas dependem de cadeias de suprimentos globais há décadas. Trazer a produção de volta aos EUA exigiria tempo e investimentos significativos. “Você não pode simplesmente dizer à GM: ‘É muito caro comprar faróis da China’. Ninguém fabrica faróis nos Estados Unidos”, explica Stephen Blitz, economista da TS Lombard.


Impacto limitado até agora


Durante seu mandato, Trump impôs tarifas sobre dois terços das importações chinesas, mas o crescimento de empregos na manufatura foi modesto: 411 mil vagas entre 2017 e 2020. Seu sucessor, Joe Biden, tentou estimular a indústria com incentivos fiscais e subsídios, mas os ganhos também foram limitados. Em 2023, o emprego na manufatura atingiu 12,9 milhões, apenas 110 mil acima do pico do governo Trump.


O que dizem os especialistas Robert Lawrence, professor de Harvard, argumenta que as tarifas sozinhas não são suficientes para resolver os problemas da indústria americana. Ele estima que, mesmo que o déficit comercial fosse eliminado, apenas 2 milhões de empregos poderiam ser criados, uma fração do que foi perdido nas últimas décadas.

Além disso, as tarifas propostas por Trump representariam um dos maiores aumentos de impostos da história dos EUA, segundo Dean Baker, do Center for Economic and Policy Research. Isso poderia impactar negativamente os consumidores, que pagariam mais por produtos importados.

Benefícios além dos empregos

Apesar dos desafios, a manufatura tem um papel importante nas comunidades locais. Susan Helper, economista da Case Western Reserve University, destaca que empregos estáveis em fábricas permitem que os trabalhadores participem ativamente da vida cívica, algo que se perde quando as pessoas têm que trabalhar em múltiplos empregos para sobreviver.


Conclusão


A estratégia de Trump de trazer fábricas de volta aos EUA enfrenta obstáculos estruturais e econômicos significativos. Embora a ideia de revitalizar a manufatura americana seja atraente, especialistas alertam que as tarifas e políticas propostas podem não ser suficientes para reverter décadas de globalização e automação. Ainda assim, o debate sobre o futuro da indústria nos EUA continua, com implicações profundas para trabalhadores, empresas e a economia como um todo.

 
 
 

Comments


bottom of page